O governo da Venezuela acusou os Estados Unidos de terem utilizado inteligência artificial (IA) para criar um vídeo que mostra a explosão de uma embarcação no sul do Caribe. O material foi divulgado pelo presidente Donald Trump como prova de uma operação militar contra o narcotráfico que teria deixado 11 mortos.
A denúncia foi feita pelo ministro da Comunicação, Freddy Ñáñez, que classificou as imagens como “artificiais” e fruto de manipulação digital. Segundo ele, análises preliminares apontaram falhas visuais que indicam a geração por IA, como explosões com aparência caricatural, movimentação de água pouco realista e artefatos típicos de conteúdos sintéticos.
O vídeo que gerou polêmica
As imagens divulgadas por Trump mostram uma lancha de alta velocidade sendo atacada e destruída em mar aberto. Washington afirma que o barco era usado pelo grupo criminoso Tren de Aragua, considerado uma das maiores organizações do crime organizado da América do Sul. A operação, segundo o governo norte-americano, foi bem-sucedida e não deixou baixas entre militares dos Estados Unidos.
Para Caracas, no entanto, o vídeo seria uma “prova fabricada” para justificar uma escalada militar na região. Ñáñez usou seu canal no Telegram para criticar também o senador Marco Rubio, acusando-o de alimentar narrativas falsas com tecnologia de inteligência artificial.
Contexto da operação
O episódio acontece em meio ao reforço da presença naval americana no Caribe, que hoje conta com sete navios e um submarino nuclear em rotação na área. Ao todo, mais de 4,5 mil militares participam da operação, em um movimento que a Venezuela classifica como uma demonstração de força desproporcional.
O presidente Nicolás Maduro já havia alertado que o país está preparado para se defender em caso de agressão, falando inclusive em uma “república em armas” diante da possibilidade de confronto.
Quem é o Tren de Aragua
O grupo Tren de Aragua nasceu em presídios venezuelanos e expandiu suas operações para diversos países da América do Sul. Envolvido em tráfico de drogas, extorsões e contrabando, é considerado pelos Estados Unidos uma ameaça transnacional. O governo Trump tem usado a facção como justificativa para endurecer o discurso contra Caracas.
Autoridades venezuelanas negam qualquer ligação com o grupo e afirmam que a narrativa americana busca deslegitimar o governo de Maduro diante da comunidade internacional.
Riscos do uso de IA em conflitos
Especialistas destacam que a possível utilização de vídeos gerados por IA em contextos militares representa um risco para a segurança global. O uso de imagens falsas ou manipuladas pode servir como gatilho para conflitos, criar pânico em populações civis e dificultar a verificação dos fatos em tempo real.
Nos últimos anos, relatórios alertam que deepfakes e conteúdos sintéticos estão cada vez mais sofisticados e acessíveis, aumentando a possibilidade de manipulação política e militar.
Próximos desdobramentos
Caracas sinalizou que pretende levar o caso a fóruns multilaterais e cobrar uma investigação independente sobre a autenticidade do vídeo. Até o momento, o governo norte-americano não respondeu às acusações feitas pelo ministro da Comunicação.
Enquanto isso, a tensão cresce no Caribe com o aumento da presença militar dos Estados Unidos e a promessa da Venezuela de responder a qualquer ação considerada hostil.